Mural de Recados

domingo, 28 de junho de 2009

Ameaças e Defesas, numa Pandemia


Ainda não existe uma vacina contra o vírus H1N1, mas isso não justifica o pânico. Melhor a fazer é tomar cuidados básicos
por Francisco Oscar de Siqueira França e Tânia S. Souza Chaves


O progresso científico-tecnológico trouxe inúmeros desafios à humanidade. No segmento da saúde, descobertas fundamentais foram feitas após a Revolução Industrial, particularmente com o início da era pasteuriana, em fins do século 19, e permitiram expectativa média de vida, ao menos em países socialmente desenvolvidos, em torno de 80 anos atualmente.

Entre algumas conquistas básicas, na saúde, estão para disponibilidade ampla de água potável, tratamento dos esgotos, coleta regular de lixo e, entre outras medidas de higiene, vacinas, técnicas desenvolvidas para o diagnóstico de doenças e seu tratamento, especialmente com antibióticos, no caso de doenças infecciosas.

Ainda assim, inúmeros desses benefícios não estão disponíveis a imensas parcelas da população mundial. O processo de globalização trouxe muitas mudanças, entre elas o desenvolvimento e utilização em larga escala de meios de transporte que permitem o deslocamento de multidões, diariamente, mesmo em distâncias continentais, por via aérea. O negativo, neste caso, é, entre outros efeitos indesejáveis, que a facilidade de deslocamento permite a rápida disseminação de agentes infecciosos, com o destaque para a atual pré-pandemia, causada pelo vírus da Influenza AH1N1.

Historicamente, o vírus influenza provocou profundo impacto na população mundial com a ocorrência de três pandemias no século 20: a gripe espanhola em 1918, a gripe asiática em 1957 e a gripe de Hong Kong em 1968.
A história documenta que as pandemias ocorrem com intervalos constantes, em média de 10 a 50 anos, e a gripe espanhola figura como uma das mais devastadoras. Estima-se que cerca de 50% da população mundial tenha se infectado. Ao menos 25% tiveram infecção clínica o que, em dois anos, resultou na morte de 20 a 50 milhões de pessoas em todo o mundo.

Entre 2003 e 2005 houve a iminência de uma nova pandemia, a partir da circulação de um novo tipo de vírus influenza com elevada patogenicidade: a Influenza AH5N1 ou gripe aviária. Embora tenha havido muitas discussões a respeito dos possíveis resultados catastróficos da Influenza AH5N1, até agora, a pandemia não ocorreu.

A influenza pode ser sazonal ou epidêmica, e o quadro clínico de ambas se caracteriza por febre de início súbito, associada a calafrios, dor de garganta, tosse seca, dores musculares e algumas vezes diarreia. A gripe sazonal, apesar de sugerir uma doença banal, é muito mais que isso. Estima-se perto de 500 mil mortes diárias por complicações da influenza, especialmente entre portadores de alguma debilidade.

Em fins de abril passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) notifi cou a ocorrência de casos humanos de Influenza AH1N1 no México e, posteriormente, nos Estados Unidos, e, em seguida, o Regulamento Sanitário Internacional da OMS declarou o fato como emergência em Saúde Pública de Importância Internacional.
Pesquisas demonstram que o H1N1 é decorrente de uma tripla recombinação genética que inclui genes do vírus influenza de origem humana, aviária e suína. A transmissão da doença ocorre de pessoa a pessoa, através das gotículas eliminadas pela tosse e espirro. O contato com superfícies contaminadas é uma fonte provável de infecção.

Desde o início da ameaça, a OMS tem orientado os países membros a intensificar seus esforços nos planos de preparação para o enfrentamento da ameaça. O Brasil dispõe de um plano de prevenção e controle para enfrentar uma pandemia, com estratégias específicas para a abordagem dessa situação.

Ocorre, neste momento, uma estreita integração do sistema de vigilância epidemiológica nos diferentes níveis de atuação em escalas federal, estadual e municipal, com resposta rápida na investigação de casos suspeitos, em diferentes momentos desde a assistência, o diagnóstico laboratorial e o tratamento. Isso significa que não há razões para pânico por parte da população.

Ainda não existe uma vacina disponível para o novo subtipo de influenza. Seria altamente desejável que essa defesa existisse. Na ausência dela, no entanto, o melhor que se pode fazer é recomendar a viajantes com destino às áreas afetadas que sigam rigorosamente as orientações médicas dos serviços locais de saúde, incluindo o uso de máscaras cirúrgicas, especialmente nas áreas afetadas e com grande aglomeração humana. Além disso, pessoas com sintomas de gripe devem tomar o cuidado de utilizar lenços descartáveis para evitar, em caso de tosse ou espirro, a liberação indesejável do vírus de que são portadoras. Outra medida é lavar as mãos com água e sabão, medida simples que pode ajudar, e muito.

Claro que, em caso de manifestações clínicas, a assistência médica deve ser procurada imediatamente.

Fonte:

http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/ameacas_e_defesas_numa_pandemia_imprimir.html#print
Francisco Oscar de Siqueira França e Tânia S. Souza Chaves Francisco Oscar de Siqueira França é médico do Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan e da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Tânia S. Souza Chaves é médica infectologista e responsável pelo Ambulatório dos Viajantes do HCFMUSP.

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